O uso de drogas é um fenômeno bastante complexo, assim sendo, polarizações ou tentativas de simplificação na forma como percebemos e lidamos com o tema não cabem. Ampliar o olhar – com reflexão, análises com profundidade e proposição de novas estratégias – torna-se atitude vital. Nesse viés, o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas (NEPAD), da UERJ, realizará, no dia 14 de agosto do 2019, o 1º Seminário – Drogas: o combate em debate – no Auditório I, 1º andar, Bloco F da Universidade. Inscrições através do telefone (21) 2334-8544.

Para mais informações sobre a questão do uso de drogas e sobre as perspectivas do Seminário, o Centro de Apoio à Pesquisa no Complexo de Saúde (CAPCS) da UERJ conversou com o médico psiquiatra e pesquisador Paulo Telles, diretor do NEPAD. Vejamos importantes considerações sobre o tema.


CAPCS-UERJ – Como funciona o NEPAD – Missão, estrutura, porta de entrada [como ser atendido] e projetos?

Paulo Telles – O NEPAD – Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas, como seu próprio nome sugere, privilegia além do tratamento dos usuários que têm um uso desarmônico, a questão do estudo e pesquisa, especialmente por ser desenvolvido no âmbito de uma universidade.   O NEPAD funciona nos dias úteis, de 9h às 17h. Os pacientes podem ser atendidos no mesmo dia em que procuram a instituição, ou podem tentar marcar a primeira consulta por telefone. No NEPAD desenvolvemos uma ampla gama de projetos relacionados ao uso de drogas e vulnerabilidades decorrentes desse uso.


CAPCS-UERJ – “Drogas; o combate em debate”. Quais as perspectivas objetivadas com a realização deste Seminário?

Paulo Telles – O uso de drogas é um fenômeno complexo, as tentativas de simplificação da forma como lidamos com os problemas relacionados ao uso não têm sido bem-sucedidas. Um exemplo disso é o insucesso de estratégias como o “Just say no to drugs” (apenas diga não às drogas) implementadas durante anos, inclusive em países desenvolvidos, com grandes gastos de recursos. A palavra combate, quando não particularizada, nos remete a esta forma de pensar polarizada, como se existissem posições de certo e errado em relação ao uso das drogas, e, como se estivéssemos em uma verdadeira “guerra” em relação às mesmas.


Novos paradigmas

CAPCS-UERJ – Portanto, é necessário um novo olhar…

Paulo Telles – Estratégias mais eficazes para tratar os problemas associados ao uso, parecem sempre estar relacionadas à singularização do uso, ou seja, uma consideração do indivíduo no processo desse uso. Isso se baseia na observação do que testemunhamos no próprio dia a dia da relação das pessoas com o uso de drogas psicoativas, ela é desarmônica para algumas e não faz qualquer questão para outras. A singularização permite que olhemos para o problema das drogas considerando aspectos mais amplos e complexos do fenômeno do uso, considerando o indivíduo com suas vicissitudes e influências do ambiente em que está inserido. Diversas vertentes tentam analisar o problema de forma mais inclusiva que o simples “certo” e “errado” trazidos pela visão do combate.


CAPCS-UERJ – Esta forma diferenciada de abordar o tema é, portanto, uma das missões do NEPAD…

Paulo Telles – Em relação ao NEPAD, desde o seu surgimento a questão do uso foi abordada de forma diferenciada do “combate”, passando por uma visão de tratamento que vai da psicanálise à diversas outras formas de tratamento que incluem sempre a singularidade do indivíduo no uso. As estratégias de redução de danos se somaram a estas, no sentido de terapias que enfatizam a singularização, ampliando o arsenal de medidas que tentam dar conta dos problemas relacionados ao uso de drogas. Especialmente por trazer o uso de drogas como uma questão associada ao próprio comportamento humano, devendo ser abordado como um problema de saúde pública, e não como um problema de combate, repressão ou legal.


CAPCS-UERJ – Sobre perigos atuais que podem levar à involução sobre o tema…

Paulo Telles – Os paradigmas mais antigos e relacionados ao combate ao uso estavam sendo aos poucos substituídos por esses novos paradigmas mais eficazes. E parecia ser um movimento sem volta, que vinha sendo assimilado pelos diversos setores da sociedade, especialmente na saúde e na justiça. O problema volta a ressuscitar quando ações políticas atuais traçam estratégias contrárias à evolução desse movimento, privilegiando as ações de “combate” em detrimento das conquistas obtidas nos últimos anos em relação ao equacionamento mais adequado do problema do uso.


 

Pesquisas e Universidade

CAPCS-UERJ – Qual panorama de pesquisas hoje realizadas sobre a questão do uso de drogas?

Paulo Telles – Pouco se estuda no Brasil sobre o uso de drogas. Esta situação é agravada pela pouca importância dada ao tema de uma maneira geral e superficialidade com que é tratado o tema em nossa sociedade. Acreditamos que a pesquisa no campo do uso de drogas psicoativas, apesar disso, é muito fértil e possui um grande espaço a ser explorado.


CAPCS-UERJ – O papel da Universidade.

Paulo Telles – Por estarmos numa universidade, temos, como já exposto, a questão do estudo e pesquisa como prioritários. Somos campo de estágio para residentes e graduandos em diversas áreas de estudo. Temos também um projeto de extensão, que permite a inclusão de estudantes de outras universidades para estágios de aprimoramento profissional e de qualquer membro da sociedade nas atividades desenvolvidas.



Por Felipe Jannuzzi
Jornalista do CAPCS / UERJ