Hoje somos todos cidadãos digitais. A cada dia, inovações, com novos canais e recursos. As potencialidades de comunicação são enormes. Mas precisamos criar e preservar o uso responsável e apropriado desta tecnologia. Tudo o que colocamos na internet deixa uma pegada, denominada como impressão digital. É como se fosse um rastro associado à sua identidade, que ficará registrado para sempre. Por isso, é aconselhável termos isso sempre em mente.
Então, antes de qualquer ação, é imprescindível refletirmos bem sobre as consequências e o respeito envolvendo todos, mas, principalmente, a si mesmo. E, conscientes, materializarmos essa responsabilidade através da utilização de valiosas “peneiras”: O que vou produzir, publicar ou compartilhar é ético? É educativo? É proibido? É prejudicial? É saudável?
Esse cuidado é vital, sobretudo quando se trata de crianças e adolescentes, que ainda não atingiram uma maturidade emocional suficiente para entender peso e consequências da sua exposição na rede social e digital.
CAPCS – Internet, exposição, midiatização, jogos online. Quando utilizados em desequilíbrio, temos o adolescente preso em uma teia. Como desvinculá-lo dessa teia?
Evelyn Eisenstein – Conscientizando-o. Aqui estamos falando de alfabetização ou cidadania digital. O adolescente precisa aprender o que é uma mídia, quem faz essa mídia, com quais intuitos se estrutura uma mídia, qual o seu alcance, o que fazer para preserva-se, o adolescente precisa discernir o que ele está vendo ali naquela mídia. Refletir sobre o vídeo que acessa, sobre o jogo que o prende, sobre o produto que está sendo “consumido” ou mesmo escravizando-o ao consumo de querer mais, mais e mais produtos.
CAPCS – Estamos então falando de educação e de um processo de alfabetização mesmo, como o de uma criança, juntar as “letras”, formando sentido, despertando a percepção, intuindo os riscos, caminhando com segurança…
Evelyn Eisenstein – Isso. Um filme, um vídeo, um jogo online, eles atuam como um “espelho” para o adolescente. Mas, como ressaltamos anteriormente, nossa mídia está colocando para o adolescente um espelho distorcido… E não uma praia, uma trilha a ser percorrida na natureza, um pôr de sol… Um espelho que reflita saúde. Não se mostra uma perspectiva de ajuda, uma mensagem de saúde e de que há sempre uma saída para os problemas e inquietudes que afligem o adolescente, não há um estímulo a desenvolver suas potencialidades…. Não são ofertados caminhos e oportunidades saudáveis a esse adolescente, os chamados valores de resiliência.
CAPCS – A prevenção, sempre o melhor caminho…
Evelyn Eisenstein – Por que não utilizar a mídia para mensagens do tipo: Vamos fazer uma banda de música…. Cantar juntos…. Criar uma música…. Construir uma ação de paz ou ecológica de limpeza na comunidade, apenas para citarmos alguns exemplos. Assim realizando, estaremos aliviando a tensão do adolescente, que ocorre em meio a uma sociedade lucrativa e patologizante. O adolescente está muito vulnerável. Precisamos abordar questões como suicídio juvenil e automutilação com uma enorme ética e responsabilidade. Inclusive a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu parecer sobre a importância de a mídia não trabalhar tais questões sem colocar os contrapontos: como procurar ajuda, sinais de alerta, como a família ter e ser suporte efetivo. Enfim, precisamos hoje veicular e massificar preceitos de prevenção de riscos e mesmo da valorização da vida. A mídia precisa ter essa responsabilidade. Não é só falar sobre a patologia, mas mostrar alternativas saudáveis de evitar essa patologia. Prevenção sim. Sempre.
* Entrevista e matéria por Felipe Jannuzzi. Jornalista, editor executivo da Revista Adolescência & Saúde.