No que tange à área da saúde de jovens e adolescentes, o compromisso constante é prospectar novas oportunidades, fortalecer o compartilhamento e cooperação entre os profissionais envolvidos, incentivar a pesquisa científica, criar novas ferramentas e descrever soluções viáveis e que propiciem um caminho seguro, sobretudo em tempos de crise, como os atuais.

A mensagem que permanece entre os profissionais e pesquisadores envolvidos na medicina de adolescentes é a necessidade de se ampliar continuamente o olhar, vislumbrando perspectivas futuras, vivenciando a inovação, e realizando pesquisas conjuntas na área de saúde de jovens e adolescentes, sempre fortalecendo-se antigas parcerias e estabelecendo-se novas. Como aplicação e vivência dessas práticas, reverberam-se benefícios para a sociedade, para o adolescente.

CAPCS – Precisamos então gerar mais oportunidades para o adolescente criar, se expressar…

Evelyn Eisenstein – Sem dúvida. Cito aqui um recente exemplo, o projeto Caminho Melhor Jovem, propiciado pelo Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (NESA/UERJ), com adolescentes de comunidades do Rio de Janeiro, em um trabalho de produção de vídeos criados pelos próprios adolescentes. Foram, por meio desta mídia, efetivadas significativas mensagens, com criatividade, articulação e comprometimento. Inclusive, recentemente mostrei os vídeos em uma viagem que fiz ao Canadá… O material fez muito sucesso em Vancouver, em um centro comunitário para adolescentes, o qual tive a oportunidade de visitar. Foi fantástico ver os adolescentes do Canadá entendendo e se interando, numa parceria ativa, acerca da mensagem dos adolescentes do Rio de Janeiro. Enfim, precisamos construir trabalhos e “pontes”, onde o fator lucrativo não seja o preponderante. Precisamos de mais apoio para desenvolver projetos e alternativas saudáveis, propor políticas de saúde.

CAPCS – Trata-se, portanto, de uma mudança de paradigma…

Evelyn Eisenstein – Em nossa sociedade atual há muita glamourização da violência, muita gamificação e uma excessiva monetização dos produtos, como jogos online ou performances de youtubers nas redes digitais para os adolescentes. Mas o adolescente não é essa “máquina de problemas”, conforme espelhado pela mídia. Ele precisa é de estímulo positivo, de incentivo, precisa de uma escuta mais atenta, de oportunidades mais saudáveis de participação, o que chamamos de protagonismo juvenil. Por isso a importância de profissionais engajados implementarem novos projetos e trabalharem pelo fortalecimento de redes positivas nos campos sociais da comunicação e saúde. Temos que pensar nos desdobramentos futuros. Há que termos consciência para a necessidade de alfabetização digital e perseverar no desenvolvimento desse trabalho. Temos o Artigo 227 de nossa Constituição Federal, que ressalta ser dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida e à saúde. Precisamos vivenciar essa prioridade, isso sim, é exercer a cidadania plena e com dignidade.


* Entrevista e matéria por Felipe Jannuzzi. Jornalista, editor executivo da Revista Adolescência & Saúde.