A introdução é o primeiro contato para com a significância do estudo e da ideia que queremos passar. Através dela, você, pesquisador(a), irá apresentar a sua questão de pesquisa, e onde você irá desenvolver sua problemática. Daí, sua relevância. Neste artigo, estamos refletindo e apresentando orientações para escrevermos uma boa introdução dentro de um projeto de pesquisa.


Na dica publicada no mês de janeiro, falamos sobre a estrutura geral de um projeto científico. Porém, essa é uma temática que gera muitas dúvidas para o pesquisador, que ainda não está acostumado com os procedimentos científicos. Segundo Ferrarezi Júnior (2011), o projeto científico é o planejamento diante da necessidade de “fazer”. Neste sentido, existem alguns elementos obrigatórios em qualquer ato de “fazer”, como por exemplo: Quem vai fazer? O que vai fazer? Por que vai fazer? O que alcançar com esse fazer? Com que conhecimento vai fazer? Como vai fazer? Quando e onde vai fazer? Quanto vai custar esse fazer? Alguém já fez isso ou algo parecido com isso antes? Existe algum registro disso que pode me ajudar nesse fazer? (Ferrerezi Júnior, 2011).

Essas perguntas poderiam ser utilizadas em qualquer condição da vida cotidiana, que necessite de algum planejamento prévio, como, por exemplo, a realização de uma festa. Porém, na ciência, cada pergunta descrita anteriormente possui um nome específico, bem como padronização para cada etapa do planejamento científico. Dessa forma, temos: Quem vai fazer? (identificação); O que vai fazer? (apresentação do tema e do problema); Por que vai fazer? (justificativa); O que alcançar com esse fazer? (objetivo); Com que conhecimento vai fazer? (referencial teórico); Como vai fazer? (metodologia); Quando e onde vai fazer? (cronograma e localização das ações); Quanto vai custar esse fazer (custeio)? Alguém já fez isso ou algo parecido com isso antes (referencial teórico)? Existe algum registro disso que pode me ajudar nesse fazer (referencial teórico)? (Ferrarezi Júnior, 2011).


Apresentando o tema de um projeto

A finalidade desta, e das dicas subsequentes, será tratar de maneira minuciosa as partes de um projeto científico, e iremos começar a discorrer pela introdução. A parte introdutória do projeto de pesquisa deverá convencer os leitores da significância do problema, fornecer informações, levantar áreas que precisam de pesquisa e, em seguida, com habilidade e lógica, conduzi-los ao objetivo específico do estudo (Thomas et al., 2012). A ordenação lógica se dá pela apresentação do tema do projeto, da problemática, das hipóteses (quando couberem), dos objetivos a serem alcançados e das justificativas.

Normalmente, o tamanho da introdução de um projeto de pesquisa possui aproximadamente de duas a cinco laudas. Porém, isto é muito variável a depender das normas da instituição no qual o projeto será aplicado. Um exemplo disso é se a introdução será separada do referencial teórico ou não. No primeiro caso, a introdução é mais curta, já no segundo, esta poderá se aproximar de cinco laudas.

Ao escrever uma introdução, o pesquisador deverá ter em mente que ele partirá de algo mais amplo (uma grande área do estudo científico), que irá se estreitando, à medida que avançamos para o problema, hipóteses e, assim sucessivamente, até chegar no objeto de estudo. O tema do projeto é a maior parte da introdução. Nesta parte, deverão ser abordados os principais conceitos, a história do tema (se tiver), os dados epidemiológicos a respeito da temática, ou seja, é importante abordar o todo.


 

Exemplos de boas introduções

Os exemplos a seguir especificam alguns aspectos desejáveis da introdução, incluindo introdução geral, informações básicas, menção de lacunas na literatura e de áreas que ainda precisam ser pesquisadas e progressão lógica, que leva ao enunciado do problema.

Exemplo (de Teramoto e Golding, 2009) – De Research Quarterly for Exercise and Sport, Vol. 80, p. 138-145, Copyright 2009 da American Alliance for Health, Physical Education, Recreation and Dance, 1900 Association Drive, Reston, VA 20191.

[Introdução geral] A pesquisa mostra que a participação em atividade física regular e vigorosa é um fator-chave na redução do risco de doenças coronárias (DC) (Mazzeo et al.,1998). A DC é a principal causa de morte nos Estados Unidos (Rosamond et al., 2007). A inatividade física é um dos fatores de risco de DCs que pode ser modificado (National Cholesterol Education Program [NCEP] Expert Panel, 2002).

[Informações básicas] Níveis plasmáticos elevados de colesterol e triglicerídeos estão associados ao desenvolvimento de DC… A atividade física regular pode aumentar certos níveis de lipídeos associados ao risco de DC….

[Direcionamento] Apesar de a pesquisa sobre os efeitos da atividade física regular sobre os lipídeos de plasma ser extensiva, poucos estudos têm monitorado as mudanças nos níveis de lipídeos plasmático em indivíduos que se exercitam regularmente por mais de 10 anos.

O enunciado do problema segue a introdução. No exemplo anterior (de Teramoto e Golding, 2009), o enunciado refere-se ao exame dos efeitos longitudinais bem documentados do exercício regular na redução do risco de DC, especialmente para a manutenção de um estilo de vida independente de idosos. Após a problematização e, consequentemente, de posse do objeto de estudo, o pesquisador deverá fazer perguntas relacionadas a ele. Nesta seção, temos a hipótese da pesquisa. Ela representa o que será estudado especificamente sobre o objeto de estudo e, consequentemente, auxilia na escrita do objetivo. Seguindo o exemplo anterior, nós estamos fazendo uma construção de valores que podem ser quantificados. Neste caso, as perguntas irão nos direcionar para uma pesquisa quantitativa. Exemplo de hipótese: a prática regular de exercício físico por mais de 10 anos reduz os níveis de lipídeos plasmático em indivíduos idosos. A próxima fase é a construção do objetivo. É importante ter em mente que o objetivo do estudo deverá conter frases com verbos no infinitivo. Nesse sentido, temos o seguinte objetivo: Investigar os níveis de lipídeos plasmático em indivíduos idosos por mais de 10 anos.

Por fim, a justificativa do trabalho está relacionada à importância ou à significância do estudo. Esta seção consiste na apresentação das razões de ordem teórica ou prática que justificam a realização da pesquisa ou do tema proposto para avaliação inicial. Em termos gerais, podemos ter em mente o seguinte pensamento: qual (is) benefício (s) a pesquisa terá deixado após o seu término? Essa questão poderá ser respondida no âmbito social, institucional ou, ainda, para a comunidade científica. Ou seja, a depender do objetivo do estudo este conhecimento trará benefícios em, ao menos, uma área em específico. Uma boa justificativa deverá conter elementos como a contextualização e repercussão do tema (muito ou pouco estudado) na atualidade. Mas, atenção! Um tema pouco estudado não é justificativa suficiente para a realização de uma pesquisa científica. Pode ser que ninguém estudou isso antes, pois a investigação proposta não faz qualquer sentido. Por esse motivo que se deve contextualizar o tema.


 

Referências

 Ferrarezi Jr., Celso. Guia do trabalho científico: do projeto à redação final: monografia, dissertação e tese. 1.ed.Sã Paulo: Contexto, 2011.

Mazzeo RS, Cavanagh P, Evans WJ, et al. Exercício e atividade física para pessoas idosas. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde. 1998;3(1):48-68.

National Cholesterol Education Program (NCEP) Expert Panel on Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Cholesterol in Adults (Adult Treatment Panel III). Third Report of the National Cholesterol Education Program (NCEP) Expert Panel on Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Cholesterol in Adults (Adult Treatment Panel III) final report. Circulation. 2002;106:3143-421.

 Rosamond W, Flegal K, Friday G, et al. Heart disease and stroke statistics—2007 update: A report from the American Heart Association Statistics Committee and Stroke Statistics Subcommittee. Circulation, 2007;115:69-171.

Teramoto, M, Golding, LA. Regular exercise and plasma lipid levels associated with the risk of coronary health disease: A 20-year longitudinal study. Research Quarterly for Exercise and Sport. 2009;80:138–145.

Thomas JR, Nelson JK, Silverman SJ. Métodos de pesquisa em atividade física 65 ed. Porto Alegre: Artmed; 2012.