Diretoria de Comunicação da UERJ

O Enani revela uma fotografia atualizada da situação alimentar das crianças de até cinco anos no Brasil e comprova que a universidade pública brasileira tem capacidade para realizar projetos de grande porte e extrema relevância para o país. Mais de 12 mil domicílios brasileiros foram visitados, entre fevereiro de 2019 e março de 2020, e 14.558 crianças menores de cinco anos participaram do estudo. Ao todo, 123 municípios foram pesquisados, sendo todas as capitais estaduais e o Distrito Federal, e demais cidades escolhidas por sorteio.

Gilberto Kac, coordenador do Enani-2019, explica que esta “é a primeira pesquisa com representatividade nacional a avaliar, simultaneamente, nessa faixa etária, práticas de aleitamento materno, alimentação complementar e consumo alimentar individual, estado nutricional antropométrico [dados referentes às medidas e dimensões das diversas partes do corpo] e deficiências de micronutrientes. O estudo com abrangência nacional mais recente era de 2006 e abordava exclusivamente anemia e carência de vitamina A. Agora, novas evidências científicas estão disponíveis para apoiar políticas públicas de saúde”, conclui.

A coordenação do estudo é feita pelo Instituto de Nutrição Josué de Castro da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em parceria com a Uerj, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Universidade Federal Fluminense (UFF), e conta com a parceria de dezenas de universidades e instituições públicas de todo o Brasil. A pesquisa está apoiada em três grandes eixos: 1) Avaliação das práticas do aleitamento materno, alimentação complementar e do consumo alimentar; 2) Avaliação do estado nutricional a partir da antropometria, que são os dados de medida do corpo; e 3) Prevalência de carências de micronutrientes a partir da avaliação bioquímica.

O Enani foi encomendado pelo Ministério da Saúde por meio de um edital, lançado em 2017, e com recursos alocados desde então. Inês Rugani, professora do Instituto de Nutrição da Uerj e membro da Coordenação do Enani, avalia que “a forma de contratar o estudo foi correta desde o início, o que permitiu sua conclusão sem depender de repasses ou sofrer cortes e bloqueios com trocas de governo e comandos. Foi um trabalho financiado com recursos públicos por meio de agência de fomento”.

O trabalho se intensificou a partir de 2018, ano dedicado ao planejamento e, em 2019, os pesquisadores foram às ruas para a fase de execução. Com o avanço da Covid-19 no território brasileiro, a decisão foi de encerrar o estudo que já se aproximava de sua fase final e recalibrar a amostragem. Entendeu-se que o ideal era fechar o levantamento de dados e apurar os resultados como um retratado da situação antes do agravamento dos casos da doença causada pelo novo coronavírus.

“A conclusão foi que não se sabia quanto tempo a pandemia duraria, e decidir pelo corte evitou que a base fosse ‘manchada’ ou ‘afetada’ por uma situação totalmente atípica. E vemos que foi a decisão mais acertada. No futuro, uma nova pesquisa vai ter condições de expor o impacto causado pelo novo coronavírus e mostrar um comparativo entre o antes e depois”.

Os resultados do estudo estão sendo lançados em etapas por meio de webinários chamados “Encontros Enani-2019”. A sexta publicação, que está sendo lançada agora, aborda indicadores do estado nutricional e antropométrico das crianças e das mães. Em 2021, cinco relatórios temáticos foram divulgados para apresentar os dados apurados a partir das pesquisas em campo. Já estão abertos e disponíveis no site do Estudo Nacional os temas: 1) Aspectos metodológicos; 2) Características demográficas e socioeconômicas; 3) Biomarcadores do estado de micronutrientes; 4) Aleitamento Materno; e 5) Alimentação Infantil.

Os resultados do estudo da alimentação infantil também revelaram dados sobre as famílias. E são situações alarmantes, como a constatação de que, ainda antes da pandemia, “metade das famílias brasileiras com crianças até cinco anos experimentam algum grau de insegurança alimentar. Por outro lado, os exames de sangue realizados nas crianças apontam que a insuficiência de vitamina D na faixa etária até cinco anos “não é um problema de saúde pública no Brasil e que a prevalência da deficiência de vitaminas e minerais reflete as desigualdades socioeconômicas do país”. Estas informações e conclusões já foram submetidas ao Ministério da Saúde e embasam políticas públicas visando garantir a segurança alimentar e nutricional das crianças brasileiras.

 

Legado da ciência aberta

Uma das maiores novidades em relação ao Enani é que o fato de ter sido realizado por um grupo de instituições públicas de ensino garantirá que o conhecimento desenvolvido seja compartilhado para uso em outros estudos, de naturezas diversas, e mesmo a base de dados coletada seja publicizada para acesso e estudos posteriormente. Rugani salienta um dos princípios adotados pelo grupo gestor é o da “ciência aberta”. E completa: “Temos muito orgulho do que fizemos”.

O Enani já deixou importantes legados à ciência. O aplicativo para recordatório de alimentação em 24h foi disponibilizado gratuitamente após o estudo já está em uso em vários estados, por exemplo. O programa pode ser baixado gratuitamente e acompanha um manual de instalação. Além dele, um Manual Fotográfico de Quantificação Alimentar Infantil, que orienta sobre como calcular as quantidades de alimentos no prato, foi produzido no âmbito do estudo e também já liberado e vem sendo utilizado nacionalmente.

Destaque científico

11º Congresso Brasileiro de Epidemiologia, da Abrasco, dedicou duas mesas aos debates sobre o estudo nacional. Foram elas: “Estado nutricional na primeira infância: diagnóstico da situação e recomendações a partir do Enani” e “Enani: transição nutricional de crianças brasileiras e os desafios para as políticas públicas”. Também foi realizado um curso pré-congresso com o tema “Estratégias para coletar dados do consumo alimentar de crianças: o aplicativo de recordatório de 24 horas e o manual fotográfico utilizados no Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil”.